quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Curiosidade e informação - Palácio da Senhoria de Florença.

Posted: 08 Aug 2011 10:32 PM PDT
Palácio da Signoria, Florença, a Cidade Medieval
Durante muito tempo o Palácio senhorial de Florença foi a sede de governo de um pequeno Estado – o Grão-Ducado de Toscana, na Itália -- que ocupou na cultura e no pensamento humano um lugar proeminente. Foi uma grande potência do pensamento.

O palácio é típico do estilo florentino. Sua cor é bonita, o amarelado da pedra utilizada na construção apresenta aspecto agradável, nada mais do que isso.

Uma torre quadrada com relógio, janelas, algumas em forma ogival, outras puras perfurações na parede, destituídas de beleza especial.

Estamos habituados, na ótica moderna, à idéia de que a torre deve estar bem no meio do edifício. Ali não. A torre fica um pouco mais para o lado direito da fachada.

E o relógio está colocado na base da torre, quando normalmente localizar-se-ia em sua parte superior das ameias, para ser visto pelo maior número de pessoas.

Constata-se a simplicidade do estilo do edifício, procurando-se nele uma porta de entrada monumental, que deveria ser proporcional à fachada principal. Ela não existe.

Palácio da Signoria, Florença, arcos, A Cidade MedievalÀ frente de uma das janelas há um balcão. Dir-se-ia que um palácio tão grandioso comportaria um balcão mais bonito, mais elegante. Igualmente este não se encontra no Edifício. O estilo florentino é seco, quase lambido. Reflete a psicologia dos habitantes da cidade.

Esse edifício é belo? É lindo! Para meu gosto pessoal é extraordinário! Sério e altivo. O modo pelo qual a torre ergue-se altaneira no corpo do palácio é extraordinário.

Mas não se pode negar que o edifício deveria ser um pouco mais coerente em alguns de seus elementos. Por exemplo, não vejo a razão de ser das janelinhas e duas pequenas portas no andar térreo da fachada...a que tudo isso corresponde?

Palácio da Signoria, Florença, a Cidade MedievalUma palavra convém dizer sobre a fileira de arco que circundam a parte superior de todo o edifício, cobertos por um teto, com uma nota de suavidade, quase se diria doçura séria, hierática e agradável, que completa um pouco o que o palácio tem de seco.

Na realidade, tais arcos são grandes machicoulis* ornamentais, utilizados como elementos de adorno na arquitetura da época. E merece ser ressaltado o bom gosto em colocar no interior de cada um dos arcos – formado pela conjugação de dois machicoulis ­­-- um vistoso brasão. Tais ornamentos constituem um fator de decoro da Praça do Palácio da Senhoria.

* * *

Imaginemos uma pessoa que sai de seu escritório à noite. Ela deixou um pequeno carro qualquer estacionado junto ao Palácio.

Chove, ela sai com uma capa de chuva, fumando um cigarrinho - ele já fumou 20 durante o dia -, cansada. Chega junto ao carro. Ela vê diariamente aqueles machicoulis . Tal pessoa terá altura de alma para reter o passo e entreter-se na consideração do palácio? Podemos imaginar dois modos de ser distintos.

Palácio da Signoria na noite, Florença, a Cidade MedievalUm é o do homem que está atolado no mundo moderno, gosta deste mundo e passa perto do palácio considerando-o uma coisa inoportuna.

Se ele olhar para o edifício, transferirá seu espírito das considerações sobre o seu ganha-pão, para considerações com as quais ele nada tem o que fazer.

O palácio -- para usar uma expressão italiana que freqüentemente me tem vindo ao ouvido - é uma coisa “con la quale o senza la quale, il mondo va tale quale” (com a qual, ou sem a qual, o mundo segue tal e qual). E esse homem, assim, torna-se ainda mais insensível ao palácio.

Se ele, pelo contrário, é dotado de mentalidade superior, distancia-se um pouco, apesar da chuva, e diz: “Vou descansar, olhando para esta beleza. Vou tomar um banho de espírito pensando nela, contemplando-a alguns instantes ...”

Palácio da Signoria, detalhe, Florença, a Cidade MedievalEntra no automovelzinho, dá um giro, recua um pouco e, enquanto acaba de fumar o seu cigarro, fica observando pela enésima vez em sua vida o Palácio da Senhoria. E admira, por exemplo, as duas séries de pequenos machicoulis e de ameias existentes na parte superior da torre... Aquilo entranha-se na alma dele. Seu espírito torna-se mais rico, como um depósito de arte de algum modo insondável.

Os homens desse último gênero são incomparavelmente mais raros do que os do primeiro. Eis aí uma explicação viva da insensibilidade, que é uma das tentações do homem moderno...

*Machicoulis: balcão de pedra construído no cimo das muralhas e das torres, na Idade Média, cujo fundo apresentava aberturas pelas quais o defensor lançava sobre o atacante toda a sorte de projéteis.

Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em 23 de novembro de 1988. Sem revisão do autor.

Texto recebido do blog  A Cidade Medieval 

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

O cachorro Ciumento - de Pe Agnaldo José


            Um momento de Reflexão





Quando o sacristão chega para abrir a porta da igreja, Nino já está lá faz tempo.Deitado no chão, observa o movimento dos carros. Não vê a hora de correr para dentro da matriz.Ao ouvir o barulho dos trincos, Nino sai ligeiro, balançando o rabo,todo feliz. Rola no carpete do altar e depois deita, esperando a hora da missa.
As pessoas entram e são acolhidas pelo cachorro. Ele cheira os pés das velhinhas e brinca com as crianças. Nino é amado pela comunidade. Não tem dono, mas todos cuidam dele. Não mora numa casa, mas recebe carinho e comida por onde passa. Tem pelos brancos com pintas amareladas. Sua raça não é definida, mas, ainda assim, faz pose de que tem pedigree. Vai à frente da cruz nas precissões. Late, pula e abre alas para a passagem do andor de Nossa Senhora. Nino até já saiu em fotos de casamento! Entretanto, o cachorro fiel sobre de um problema que também atinge muitos humanos: o ciúme. Ele não suporta a presença de outro cão na igreja. Ao avistar outro animal cruzando a porta ou caminhando pelo corredor central, dá um salto, range os dentes e sai atrás do intruso, expulsando-o para bem longe.Nino me faz pensar na nossa vida comunitária. Muitos católicos são como ele: dedicados, amorosos e acolhedores.São os primeiros a chegar à igreja e os últimos a sair. Vão à frente nas procissões. Visitam os doentes e pagam o dízimo. Alegram o coração de Deus. Mas, como Nino, sentem-se donos da comunidade. Se alguém se aproxima e os ameaça, "rangem os dentes" e "correm atrás das pessoas", expulsando-as para bem longe. Jesus deve ter grande carinho por Nino, criatura que nasceu das mãos do Pai. Porém, não quer que imitemos seu ciúme e sua ira. Deseja que vivamos como os primeiros cristãos: num só coração e numa só alma. Espera que testemunhemos sua ressureição, vendo multiplicar a graça de Deus. Quer que sejamos servos uns dos outros e não donos da igreja.
Nino sempre será assim. Enquanto estiver frequentando a igreja, manifestará o mesmo comportamento: ficará deitado ao redor do altar e correrá atrás de outros cães. Nós, contudo, podemos melhorar sempre, pois fomos criados à imagem e semelhança de Deus. Somos seus filhos.

Artigo escrito por Pe Agnaldo José, sacerdote, jornalista e mestre em Comunicação.
Publicado na revista Ave Maria de Agosto/2011

Oratório Provençal